quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Cartas da Segunda Guerra Mundial – Chegada à Itália.




Itália, 21 de Dezembro de 1.944
Meus caros pais e irmãos,
Saudações.

“Depois de minha partida somente agora é que pude lhe escrever. Espero que tenhas recebido o meu telegrama. Cheguei bem de viagem. Fiz uma ótima viagem. Graças ao nosso Deus, gozo de uma boa saúde. Aqui na verdade faz muito frio, mas eu estou enfrentando ele muito bem.
Tudo aqui corre muito bem para nós. As suas boas preces estão sendo ouvidas por Deus.
Tenho uma ótima função. Não deves mais ficar pensativa em minha vida de guerra. estou gostando dela. A guerra não é tanto como aí se julga. Sei que esta carta irá chegar um pouco tarde, mas mesmo assim aproveito para enviar a todos os meus melhores votos de felicidades pela entrada do ano novo. E espero que haja feito um bom natal.
O meu maior presente aqui é em receber de vez em quando uma carta daí, para saber notícias de todos. Como eu prometi vou colocar no correio uma carta em cada oito dias.
Gostaria de que minhas irmãs escrevessem sempre uma carta.
A terra do pai tem bom vinho.
As uvas terminaram. Aqui tem muito frio, lama e chuva.
Quando eu aí voltar muitas coisas tenho que contar.
Como vai a Julia e sua família, recomendações a todos. Abraços em todas minhas irmãs. Recomendações a todos os meus manos.
Aqui é que a gente dá o valor ao nosso querido Brasil. Quantas saudades que sinto dele e de todos que me estimam.
Se Deus quiser com o nosso e vossos esforços, a guerra a de terminar logo.
Minha querida mãe e pai, como vocês crêem em Deus, deves crer também no que eu digo: aqui estou bem e nada deves recear. A guerra pertence ao bom soldado, que defende uma causa justa. Principalmente a dignidade de nossa querida Pátria.


Germano


Gosto muito de pertencer a esta cruzada.
Nós brasileiros gozamos de um bom conceito, perante todos, porque sabemos honrar a nossa bandeira. O alemão tem temor ao soldado brasileiro.
Peço pelo amor de Deus, em não pensar em mim.
Aqui vivo contente, principalmente junto com os meus companheiros.
Mãe, tem recebido carta de Josefa? Tem escrito a ela?
Espero melhores cartas. Escreverei.
Findo esta carta abraçando a senhora e ao pai e beijos a todos deste teu filho que sempre soube adorá-los”.

Germano.



Bisavô Antonio e todos os filhos homens.




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Os Carneiros e a Estrela.

















terça-feira, 17 de novembro de 2009

Cartas da Segunda Guerra Mundial – Sinal de Partida.


Nesta oportunidade não poderia deixar de fazer uma singela homenagem a duas matriarcas: Tereza Sanches Agnelli, mãe de Germano Agnelli e Justina Agnelli, sua irmã. Desde muito pequeno tenho visto o exemplo de amor e dedicação de minha bisavó e avó aos filhos, netos para manter a família unida. Minha Bisavó Tereza e meu bisavô Toninho tiveram onze filhos: Nilton, Germano, Carlos, Chiquinho, Natal, Torelo, Maria, Justina, Júlia, Zilda e Terezinha. E ainda adotaram mais dois meninos que criaram com o mesmo amor e atenção dos seus. Moraram por muito tempo na Zona Rural onde plantavam algodão, milho, café e criavam gado. Depois que os filhos cresceram e se casaram passaram a viver na cidade de Dourado, interior do estado de São Paulo.
Também a elas devo meus préstimos por terem guardado, por tanto tempo, relatos importantes da história da Segunda Guerra Mundial que só agora podemos compartilhar com todos.


Família Agnelli


O Embarque à Itália.




Rio de Janeiro, 08 de Novembro de 1944.
Minha boa mãe,
Saudações.

Espero que quando receberes esta já tenham recebido noticias minhas pelo telegrama que mandei. Eu recebi todas as cartas da senhora, da Júlia, Lídia e da Justina.
Eu aqui vou indo bem e peço a senhora e a todos que não fiquem tristes comigo, não devem pensar em mim. Eu aqui estou contente com tudo. Nada me faz passar triste. Só aí é que me põe a pensar. Portanto peço para que não pensem em mim. Diga a Júlia também para não chorar. Explica a ela que a guerra já está acabada. Eu era para ficar aqui mas foi dado sem efeito, de modos que agora eu vou como rádio-telegrafista. Em nada devemos temer. Tenho muita fé que nada há de acontecer. Quando eu for eu passarei um telegrama. Nesse telegrama eu só vou dizer o seguinte: (Sinto muitas saudades). De modos que assim fica combinado o meu sinal de partida. E nada de tristeza porque eu só vou fazer um passeio. Podes acreditar nisso. Se a senhora não crer nisso será a mesma cousa que não acreditar em Deus.
Dentro de poucos meses estamos todos de volta. Eu quero que todos sintam orgulhosos de mim. Saberei cumprir com o meu dever. Sempre gostei disso. Um dia seguirei, mas um dia voltarei.
Deus sempre me guiou e sempre a de me guiar.
Mãe, eu dei uma escapada e fui ver a Josefa, passei sábado, domingo e segunda, de modos que ela ficou mais conformada. Eles me fizeram tanto que nem sei como pagá-los. Eles são muito bons. E me estimam muito. Josefa me disse que já respondeu a carta da senhora.
A contar do dia do meu embarque, o pai deve receber aí, um mês de meus vencimentos. Se acaso não receberem, me escrevam.

Quando eu embarcar suspenda a correspondência, só me escrevam quando eu escrever. Dê as minhas recomendações ao pai. Abraços no Chiquinho, e lembranças aos cunhados e cunhadas.
Beijos em todas as crianças.
Sempre peço desculpas de minha letra.
Eu aqui procurei o Lelo mas não encontrei. No contingente que veio do Norte ele não veio. Ele deve ter dado já a baixa. Ele já findou o tempo.
Em maio, se Deus quiser, estaremos aí todos juntos.
Vamos fazer uma grande festa. Sempre estou pensando em todos aí.
Sinto saudades. Mas em breve mataremos essa saudade.
Quanto ao meu dinheiro, o governo vai deixar depositado no Banco Andrade Arnaud, com sede a rua Buenos Auyres nº 20 – A – Distrito Federal.
Eu vou ver se posso mandar uma procuração para o pai, para ele retirar esse dinheiro e guardar junto com o outro que ele irá receber todo o mês.
Sei que ele tem que fazer aí uma nova procuração para o Colagrossi movimentar com o Banco Nacional da cidade de São Paulo, que é o que vai fazer a transferência com o Banco Andrade Arnaud.
Sem mais aceite recomendações deste teu filho que pede abençoa-lo.

Germano.




Bisavó Teresa.






Avó Justina Agnelli Varella.


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Os Carneiros e a Estrela.






segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Cartas da Segunda Guerra Mundial - Continuação.

Segunda Carta

Nesta segunda carta Germano procura consolar sua mãe e parentes com a sua ida à Itália, onde talvez nem embarcaria, prevendo aos entes queridos o termino da guerra antes de embarcar. Também define sua posição de rádio-telegrafista do Exército Brasileiro, e uma certa frustração por não encontrar o irmão, Torelo Agnelli.


Foto: Germano e Soldado desconhecido




Rio de Janeiro, 03 de Novembro de 1944.
Querida mãe,
Beijos.

Recebi a sua estimada carta que muito me alegrou o meu pobre coração. Nem sabes o sentimento que tenho em vos deixar. O destino o quer. E saberá cumprir com o meu dever. Agora não deves se preocupar comigo, que tenho fé que nada acontecerá. Deus sempre esteve comigo, e estará para sempre. Amém.
A senhora podes crer que a guerra está no fim. Logo tudo terminará.
Temos que nos conformar, aqui tem a maioria que são casados e cheios de filhos. Eu sou solteiro.
Mãe, recebi o seu telegrama. Mas não pude encontrar o Lelo (Torelo Agnelli). Em todos os casos tenho fé de encontrar. Eu quase não posso sair daqui. Peço a senhora me mandar o endereço dele com urgência.
Mãe a Josefa me descreveu que a senhora escreveu a ela. Ela diz sentir muito satisfeita e acha que a senhora é muito boa. E vai responder a carta. Eu também agradeço a atenção da senhora. Eu deixei com a Josefa mil cruzeiros e a caderneta da caixa.
Se por ventura eu embarcar para Itália, eu vou mandar um dinheiro que tenho. Porque a gente só pode embarcar com cem mil réis. Mãe, eu vou ganhando mais ou menos três contos. Não sei certo quanto é. Mas desses três contos, uma parte o pai vai receber aí, na coletoria ou na câmara. E a outra parte fica no banco, ou na caixa em meu nome e a terceira eu receberei na Itália.
Aqui no exército eu fiz a declaração de herdeiros e segue um formulário.
Essa declaração de herdeiros é para se acaso acontecer alguma cousa comigo, as famílias receberão pensão militar referente a um ordenado de um posto acima do meu.
Espero que tenhas compreendido. Se caso não compreenderam, pode me escrever novamente.
Peço desculpa da letra, estou escrevendo de cima de um caixão. E tenho pressa.
Diga a Lídia do Tio Ernesto que recebi a carta dela e que muito agradeço a atenção dela. E que não escrevi por falta de tempo. Diga a Júlia que muito agradeço também a sua carta. E que logo vou responder a carta dela.
Lembranças para as meninas. E que tenham sempre juízo.
Dê lembranças ao pai e ao Chiquinho.
Quando tudo isso terminar iremos fazer um piquenique toda a família junta.
E tenho muita fé em que isso será realizado. E vai ser para o mês de maio.
Mãe, Rio é encantador. Já fui passear duas vezes nos melhores lugares.
Mãe, pode tranqüilizar o seu coração que talvez nem chegue a embarcar. Talvez eu fique aqui tomando conta do material que fica. Vão ficar dois sargentos por Companhia. Por enquanto eu sou um dos escolhidos. Podes crer. Quero que Deus me castigue se isso for mentira. Por isso peço que a senhora não fique triste mais. Porque eu aqui todos os momentos estou vendo a senhora triste.
A senhora talvez nem sabes calcular que sempre estou aí com a senhora. O meu pensamento está sempre aí. Agora é preciso também que a senhora se alegre um pouco mais.
Quanto mais triste a senhora ficar será pior para nós. Os lamentos aí da senhora repercute aqui no meu coração.
A senhora deves ficar orgulhosa disso. Eu tenho cinco anos de militarismo. Estou bem treinado. Quando eu voltar, voltarei mais brasileiro do que fui. E a senhora será mais mãe, porque soubestes passar por mais um sacrifício que Deus a impôs.
É necessário também que a Senhora se alimente bem.
Nesse momento eu acabei de saber, se caso eu for para Itália, irei como Rádio – Telegrafista. De modos que se assim for, podes ficar mais tranqüila ainda, que nada poderá me acontecer.
Todos esses sacrifícios nossos de hoje serão felicidades de amanhã.
Temos que ter fé em Deus. E ser forte. Ou demais de nada valerá.
Recomendações a todos que por mim perguntar”.

Termino esta, pedindo que me abençoe.
Este teu filho que muito te considera”.
Germano.
Veja na outra folha o meu novo endereço.
Escreva-me logo.
Sim”!


Antonio Agnelli e Tereza Sanches Agnelli (pais de Germano)


Meu novo Endereço:
D.P.E da F.E.B – 1º Escalão
Sub-Grupamento de Infantaria
III Batalhão
III Companhia dos Comandos
Vila Militar.
Rio de Janeiro.



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terça-feira, 3 de novembro de 2009

Cartas da Segunda Guerra Mundial




Nesta publicação vou descrever uma das histórias que mais marcaram a minha emoção. Tive o conhecimento que minha avó Justina Agnelli Varella, guardava com todo carinho, por muitos anos, cartas de seu irmão que serviu a II Grande Guerra Mundial. Germano Agnelli, meu tio-avô, serviu ao exército brasileiro e quando estava em Roma para combater o Fascismo de Mussolini, escrevia cartas a todos os irmãos e a seus pais. Na verdade, foram dois irmãos à Guerra: Germano Agnelli e Torelo Agnelli mas tenho apenas as cartas de Germano que retratava momentos desde o embarque até os mais difíceis que conviveu diante da guerra.
Somente para reportarmos um pouco na história e entendermos que a Itália Fascista, liderada por Benito Mussolini estava dividida e apoiava o “nazismo” de Adolf Hitler na Alemanhã.
A intervenção da Itália (com início em 10 de Junho de 1940) na Segunda Guerra Mundial como aliado da Alemanha trouxe o desastre militar e resultou na perda das colônias no norte e leste africanos bem como a invasão americano-britânica da Sicília em Julho de 1943 e o sul de Itália em Setembro de 1943. (Fonte: Wikipédia, http://pt.wikipedia.org/wiki/Fascismo#Defini.C3.A7.C3.A3o
A Segunda Guerra Mundial foi um conflito bélico ocorrido no Século XX, envolvendo as forças armadas de mais de setenta países, opondo os Aliados às Potências do Eixo.
A guerra começou em 1 de setembro de 1939 com a invasão da Polônia pela Alemanha e as subseqüentes declarações de guerra da França e da Grã-Bretanha, prolongando-se até 2 de setembro de 1945.
Em estado de guerra total, mobilizou mais de 100 milhões de militares, e causou a morte de, aproximadamente, setenta milhões de pessoas (cerca de 2% da população mundial da época), a maioria das quais civis. Foi o maior e mais sangrento conflito de toda a história da Humanidade.
As principais nações que lutaram pelo Eixo foram: Alemanha, Itália e Japão. As que lutaram pelos Aliados foram, principalmente: Grã-Bretanha, França, União Soviética, Estados Unidos e China.
A guerra se encerrou com a rendição das nações do Eixo, seguindo-se a criação da ONU (Organização das Nações Unidas), o início da Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética (que emergiram do conflito como super-potências mundiais) e a aceleração do processo de descolonização da Ásia e da África. (Fonte: Wikipédia, enciclopédia livre).


O principal papel do Brasil na Segunda Guerra Mundial era dar apoio total aos Estados Unidos, pois durante esta época (1937 – 1945) o país vivia a instalação de um Regime Militar comandado por Getúlio Vargas onde detinha um empréstimo de 20 milhões de dólares dos E.U.A. para a construção da Usina de Volta Redonda.
No ano de 1943, foi organizada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), destacamento militar que lutava na Segunda Guerra Mundial. Somente quase um ano depois as tropas começaram a ser enviadas, inclusive com o auxílio da Força Aérea Brasileira (FAB).
Nesse breve período de tempo, mais de 25 mil soldados brasileiros foram enviados para a Europa. Apesar de entrarem em conflito com forças nazistas de segunda linha, o desempenho da FEB e da FAB foi considerado satisfatório, com a perda de 943 homens.

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Primeira Carta:

Rio, 21 de Outubro.
Minha boa mãe,
Saudações.

Em primeiro não me é possível escrever a tinta e nem tao pouco legível. Acabo de chegar ao Rio. Estou bem. Não pense em mim. Aqui recebemos de tudo. Nada nos falta. Embarcamos em São Paulo, quinta-feira, à noite. Joséfa ficou inconsolável. Precisamos ter paciência não é? Espero que a Senhora se conforme, não chore por mim. Sinto muito por todos que aí deixo. Partirei com o coração voltado para todos os que me são caros. Estarão todos em meus pensamentos. Mesmo nos momentos difíceis. Trabalhamos aqui normalmente.
A vida militar, é bem grande. Somos aqui homens de todos os estados.
Partiremos em fins de novembro. Tudo aqui nos encoraja, cada vez mais.
Temos bons chefes. E nada nos falta. Nosso conforto é bom. Aqui nada nos falta e lá nada também nos faltará.
A pátria precisa do nosso esforço. O dia de amanhã será para nós, muito triste, mas outros virão muito alegres e cheios de glória.
Aqui encerro esta missiva.
Recomendações e abraços a todos. Deste teu filho que pede a bênção.
Germano.”

Orai por mim.
Deus a ouvirá.
Adeus”.

Germano Agnelli – 3º Sargento.
3ª Companhia – 1º Batalhão.
Força Expedicionária Brasileira.
Sub-Grupamento de Infantaria.
Vila Militar.
Rio de Janeiro.


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Os Carneiros e a Estrela.