quarta-feira, 11 de junho de 2008

Autores e obras de nossa terra

Saudações

Senhor tu me deste a vida
Para um dia eu viver
Puseste no jardim a rosa florida
Para eu colher
Senhor, tu que me deste tudo de que precisei
Deste o sol que me aquecia
Foi um dia em que eu chorei
Onde tu puseste alegria onde não havia
Eu procurava carinho, amor e ternura
E encontrei
As dolorosas dores, que com doçura
Eu resgatei
Senhor tu me fizeste feliz
Quando há tantos que choram, e têm solidão
Pois eu sempre quis
Te agradecer tudo isso de todo o coração
Senhor, tu és um Santo
Um belo dia o sol raiou e a janela estava aberta
A tua luz iluminou
A minha vida que de escuro estava coberta
Senhor, só resta te saudar
Nesta hora tão bonita e alegre
Tudo de bom na minha vida veio a nascer
O sol no entardecer
Faz com que a gente escreva
Versos, poemas e cartões
Assim, Senhor, posso te agradecer
Poesia retirada do livro "Esperanças" da Srta. Ana Keylla Munhoz.


Evocação
Folha de Dourado, N.o 56 de 09/05/1992.
De um modo despretensioso, o objetivo e ao mesmo tempo, encantador, Cecília de Barros Pereira de Sousa Braga registra os usos e costumes nas antigas fazendas em um livro que acaba de lançar: "EVOCAÇÃO". Descendente de ilustre estirpe, trazendo no sangue, na postura, nos gestos, na graça das atitudes a finura e a classe de uma verdadeira brasileira bem nascida, a autora quis homenagear na obra seus antepassados e contar como pensavam e viviam os antigos Barões do café. A ação desenrola-se no Vale do Paraíba, começando no último decênio do século XVIII, quando se rasgava o Caminho Novo, à margem da qual iam nascendo núcleos de população: São João Marcos, Passa Três, Pouso-Seco, São José do Barreiro, Bairro do Sant'Ana do Paraíba, Bairro do Bocaina, Embau. Pelas trilhas dessas circunvizinhanças, chegava-se a Capela do Senhor Bom Jesus do Livramento do Bananal. Em Torno, havia opulentas propriedades, cujas casas grandes foram lentamente destruídas pelo tempo, conservando contudo, algo da grandeza antiga nos portais trabalhados, nas escadarias nos jardins invadidos pelo mato.
Na Fazenda São João do Remanso acontecem os fatos que Cecília evoca com tanta emoção e nitidez, transportando o leitor para a época dos últimos grandes senhores de imensas glebas, cultivadas pelos escravos, retratados com piedade e carinho.
Os capítulos vão fluindo como as águas mansas de um riacho: ora, são as atividades do homem do campo, a lida com o gado e a lavoura, o trabalho duro e sofrido dos negros, o labutar das mucamas nas rocas e teares ou junto aos tachos nas cozinhas imensas.
Há páginas de muita beleza como a Festa de São João, com a fartura de doces de abóbora, batata doce e cidra, colocados em longos tabuleiros; os pés-de-moleque e as rapaduras embrulhadas em palhas de milho, as danças e cantorias dos escravos, no terreiro. Antes de anoitecer, tílburis, caleças, landôs, coches, vitórias e troles trazendo os convidados, adentrando a fazenda, cujo casarão ficava repleto de convidados. Do teto da imponente sala, destacavam-se as pinturas a ouro. Simétricos dunquerques em recurvada forma barroca sustentavam os espelhos em molduras douradas, com suas folhas de louro entrelaçando as iniciais da família.
A fartura transbordava em doces como alfenís, balas de ovos, cones de fios de ovos e ainda, no vinho do Reino e Xerez, servidos em cálices de cristal sobre pesadas salvas de prata. Depois eram as danças ao som de esmerada orquestra. No terreiro, o batucar dos negros ia até alta madrugada. "Negro há de batucá/ Até o dia dispontá/ Até o dia clareá/ Até o astro-rei nascê".
O livro é todo ele, um vigoroso libelo contra a escravidão e, ao mesmo tempo, um hino de exaltação ao ideal abolicionista.
Todo aquele universo é puro passado . Mas visitando a região, pôde Cecília hospedar-se no antigo solar da família, agora transformado em hotel. Os móveis barrocos, as portas com maçanetas de cristal facetado e bandeiras em arco, o assoalho de tábuas largas, os lustres cujas mangas bordadas se abriam em tulipas, tudo parecia evocar ainda os velhos tempos.
A obra é ainda enriquecida da transcrição de alguns cantos afro-brasileiros e de vocabulário de origem tupi, usado no texto, como coivara, pitanga, urutau, xororô, entre muitos outros.
"Evocação" é uma jóia delicada e bem trabalhada, num relicário de mil lembranças. Merece ser lido com muito carinho pelos que amam sua terra e sua gente.
C. Siqueira Farjallat.
Junta de bois: usado para transporte de cargas nas propriedades (foto de 1919)
Atrás o Grupo Escolar Senador Carlos José Botelho.


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