Itália, 24 de Maio de 1945.
Caríssima mãe.
“A sua saúde e a de todos em primeiro lugar.
Minha boa mãe, acuso o recebimento de sua carta datada de 8 de abril passado. Junto carta do Chiquinho que também respondi. Nesta sua carta a senhora ainda falava que a vitória estava próxima e por fim já temos mesmo nossa Vitória.
Eu gostaria de estar aí nesse momento para ver o seu contentamento. Então a senhora acha que eu sou sempre animado não é? Pois assim tem que ser. Aqui também o povo repicavam os sinos e bailavam nas ruas de tanta alegria. Os soldados brasileiros são muito queridos tenho mesmo que dizer que de todos os que aqui se acham são os mais queridos. Eles nos tratam de gente fina. É porque também os tratamos com muita delicadeza e respeito. Visitei a terra do pai, é uma cidade muito antiga só é que tem muita cousa histórica que vi e aproveitei muito bem este passeio. Procurei visitar tudo com muita atenção. Parentes é manga de colete. Eu acho que desmilinguiram. A guerra ali não houve nada, isto é região salva. Olha, quando eu voltar é que poderemos conversar porque senão temos que sair das normas que devem ser respeitadas para se escrever. Compreende? Tenho algumas visitas que levarei comigo. Mãe, a guerra Graças a Deus, terminou e as suas preces não foram em vão. Deus ouviu-as muito bem. Porque eu fui muito feliz desde a minha saída ai do Brasil. Sai numa função e vou voltar com a mesma função. Só que quando eu voltar irei sair no mais breve possível e tratar da minha vida, não acha que é melhor? Ao menos me parece e não mudo de pensar. Já estou cansado. Tenho trabalhado muito que nem queiras crer. Não é conversa mole não. É no duro. Capito.
As Italianas já me dizem que eu chego a conversar o italiano mais bem de que muitos deles. Vai aqui um trecho em italiano.
Questa terra multo belina. Brasiliano multo bono. Tedesco cativo. Portato tuto via. Nenhente deixare per nolhartre. Io dopo da guerra portare a Bragile. Sí vive bene lá, Io chai parente nela america, volho andare via presto, presto. Isso daqui não é nada vocês irão ver quando aí chegar.
Mãe, aqui onde estou a região é muito bonita. Mas estou com uma vontade de voltar que a senhora nem podes calcular. Os dias parecem não mais passar desde que a guerra terminou.
Diga a Terezinha que vai carta para ela em resposta da sua. E para o Chiquinho também. Recebi carta de Maria e Zilda as quais respondo. Esses últimos dias tenho trabalhado que não houve tempo para responder suas cartas. Recebi todas elas no dia do meu aniversário. Recebi também três de Josefa. Foi o meu maior presente de ano. E ainda eu fiz aquele belo passeio porque eu fui dispensado neste dia.
Então a Terezinha foi a São Paulo. Que granfinagem heim! Está progredindo. Deu até para escrever uma carta para mim. Foi até a sua primeira carta. Em outra sua carta mãe, que escreveste junto a do pai eu compreendi o que ele me escreveu. E agradeço muito a atenção da senhora e dele.
O meu amigo vai junto também comigo passar aí uns dias. E ele disse que vai comer muito churrasco.
E eu agradeço muito ao pai de ele ter essa lembrança de querer promover essa churrascada para a minha volta. Eu não mereço essa grande vontade dele.
Mãe eu quando passar a São Paulo, levarei a Josefa com a mãe dela. O que a senhora acha, mande me dizer si aprovas o meu parecer.
Hoje escrevi a ela. Ela vai indo muito bem e disse que escreveu a Senhora.
De as minhas recomendações a todos principalmente aos que por mim perguntarem.
Esta Itália é louca, mãe agora está fazendo um calor tão louco que nós precisamos depois do meio dia trabalhar de calção devido a tanto calor. O sol é tão quente que parece que estamos no deserto da África. A senhora já viu uma terra desse jeito? Depois de neve um calor monstro. Esta terra não é de gente. Aqui eu acredito que Cristo não passou. Foi por isso que ele mandou São Pedro para aqui. Aqui é de amargar. Capito.
Mãe eu vou terminar esta carta abraçando muito. E esperem que algum dia eu voltarei.
Lembranças ao meu pai e irmãos e peço abençoar este filho que muito a quer”.
Germano.
A Segunda Guerra Mundial teve seu fim anunciado em 2 de setembro de 1945, com a assinatura da ata de rendição incondicional do Japão, a bordo do couraçado Missouri.
O líder alemão de origem austríaca Adolf Hitler, Führer do Terceiro Reich, pretendia criar uma "nova ordem" na Europa, baseada nos princípios nazistas da suposta superioridade alemã, na exclusão, e supostamente eliminação física incluída, de algumas minorias étnicas e religiosas, como os judeus e os ciganos, bem como deficientes físicos e homossexuais; na supressão das liberdades e dos direitos individuais e na perseguição de ideologias liberais, socialistas e comunistas.
Durante os seis anos de guerra, estima-se a perda de 50 milhões de vidas, entre militares e civis. Destes, mais de cinco milhões de judeus foram exterminados em campos de concentração nazistas, como parte da política anti-semita de Hitler.
Fonte: Fundação Getúlio Vargas - CPDOC