O
Blog Dourado Cidade Online tem a satisfação de
descrever, através da narração do Sr. Rudynei
Fattore, Jornal “O Dourado” de 26/10/2007, a história de
mais um douradense que nos deixa saudosas lembranças de sua
bondade e amizade. Uma história que remota o tempo do início
do povoado de Dourado juntamente com as famílias pioneiras do
Bairro do Bebedouro. Uma linda história.
Cada
Banco Uma História.
A
História de Manoel Cardoso
se confunde com a dos pioneiros de nosso município de Dourado.
Seus antepassados chegaram às terras de Bebedouro no início
do século XIX. Toda história de ocupação
das terras, formação dos primeiros núcleos de
população, disputa pela imagem de São João
Batista que os moradores foram buscar em carro de boi em Rio Claro,
tudo se fez com a participação atuante da família
Cardoso dos Santos, juntamente com todas as outras famílias
tradicionais e pioneiras do Bairro do Bebedouro.
Foi
aí nesse local que nasceu Manoel Cardoso dos Santos, filho de
José Cardoso dos Santos e de Maria Francisca dos Santos no
dia 26 de agosto de 1896.
Com
apenas nove anos de idade ficou órfão de pai e quem
assumiu o comando da casa, da fazenda, dos negócios e da
família foi sua mãe, uma mulher de fibra.
Quando
criança recebeu os ensinamentos de um professor particular
vindo de Brotas.
No
início da fase adulta casou-se com Maria Cervadoro,
descendente de imigrantes italianos. Foi muito batalhadora,
companheira prestimosa e que sabia encarar as dificuldades do
trabalho e ser parceira do marido, até nos acampamentos das
empreitadas de trabalho em outras terras.
Manoel
era inteligente, sensível e aberto ao conhecimento e às
novidades do seu tempo: características que foram marcantes e
determinantes ao longo de sua vida.
Gostava
muito de música. Fez parte da banda de música
antigamente. Tocou violão por muito tempo e só parou
quando se feriu na serraria e ficou com um dos dedos sem
flexibilidade. Fazia parceria com sua esposa que tocava bandolim e
ambos cantavam muito bem, alegrando os encontros e reuniões de
família. As músicas preferidas: Saudades de Matão
e Branca.
Gostava
muito de ler jornais para ficar por dentro das noticias e adquirir
mais conhecimentos. Ao surgir o Rádio, ouvia o Repórter
Esso e a Hora do Brasil.
Em
sua fazenda sempre houve muitas moradias e deu trabalho para muita
gente que criou lá os seus filhos e que ainda hoje voltam com
com netos e bisnetos procurando relembrar aqueles tempos bons.
Manoel
Cardoso dos Santos tinha grande preocupação com o bem
estar dos seus trabalhadores e um cuidado especial com a educação
das crianças. Sempre valorizou muito a educação
escolar e, por isso, mandou construir uma escola e a casa dos
primeiros professores: o casal, Dona Nenê e Seu Augusto.
Durante o dia ensinavam as crianças e à noite ensinavam
os adultos.
A
Escolinha do Bebedouro
deixou saudades e boa lembrança para os que lá
estudaram. E foram muitos porque ela atendia a todas as fazendas e
sítios do Bairro do Bebedouro e os adultos à luz de
lampião.
Os
professores sempre receberam muita assistência por parte do Seu
Manoel que cuidava também de transportar gratuitamente os
professores que não perdiam aula nem em dia de chuva, pois pra
enfrentar o barro da estrada e a serra escorregadia ele tinha o
cuidado de acorrentar as rodas da condução.
Seu
Manoel tinha paixão por carro
de boi e fazia muito
gosto de ele mesmo comandar e fazer cantar carregando oito metros de
lenha ou qualquer outro produto da fazenda. Os últimos bois
foram o Cruzeiro e o Canário: dois bois enormes, de grandes
chifres retorcidos, que pesavam umas arrobas cada um. Não
tinha coragem de vende-los para o matadouro movidos pela gratidão,
pela convivência e pelos serviços prestados. Vendeu-os
para um particular.
Em
sua propriedade fez de tudo: tirou leite, plantou arroz, feijão,
milho, amendoim, algodão e fez horta. Era um semeador nato:
vivia com os bolsos cheios de sementes que ia espalhando onde passava
ou beirando as cercas. Para o cultivo das lavouras usou de
instrumentos agrícolas desde os mais simples e rudimentares
como as plantadeiras pelo homem, como os pequenos aradas puxados por
burros e nos últimos tempos por trator.
Teve
a preocupação de formar um pomar que sempre foi
visitado por muitos que usufruíram dos saborosos frutos. Era
comum alguém lhe dizer: “- Mas o Senhor vai plantar essa
árvore? Ela demora muito pra dar frutos! o Senhor nem vai
comer delas!” E Ele respondia com sua voz mansa e educada: “-
Pois se eu não comer, outro come!” E quantos comeram e ainda
comem! E que pomar de jabuticaba lindo e saboroso ele fez!
Em
sua fazenda os grãos que produzia eram beneficiados e
triturados e transformados em farinha ali mesmo através do
monjolo. Com o passar do tempo teve até máquina de
arroz na cidade e também uma serraria.
Seu
espírito empreendedor fez com que ele construísse um
engenho para a transformação da cana em melado, açúcar
redondo, açúcar mascavo e rapadura com batata-doce,
abóbora, amendoim e gergelim. Tudo que produziu era de boa
qualidade, a maior parte não era para vender e sim para
presentear as pessoas. Fez até um engenho de pinga, com
autorização fiscal e tudo. No rótulo das
garrafas estava em destaque “Caninha Cardoso”. Não bebia
mas presenteava os amigos.
Por
falar em vícios, também não fumava e não
gostava do cheiro do cigarro. Quem fosse fumar perto dele era
impedido delicadamente, pois ele oferecia uma bala que sempre trazia
no bolso, dizendo:
“-
Fuma este aqui ó”!
Manoel
foi inovador nos meios de transportes aqui em Dourado. O seu caminhão
era tão pioneiro que possuía até roda de pau.
Alguns
anos depois comprou um caminhão Ford 34, zero Km. na agência
Carron em Ribeirão Bonito. Isto foi a glória mas outros
caminhões e caminhonetes se sucederam.
Nessas
condições transportava de tudo e até gente.
Serviu muito aos moradores do Bebedouro, pois sempre cabia mais um.
Depois
de um dia de lida dura na terra, voltava para a cidade com o caminhão
carregado de lenha a ser entregue nas casas dos fregueses para
alimentar os fogões que ainda não usavam gás.
Transportou lenha para a douradense movimentar os trens.
Transportou
toda a madeira para a construção do antigo Salmer. Com
seus caminhões ensinou muita gente a dirigir e deram bons
motoristas. Muitos deles trabalham até hoje e lembram disso
com saudades e gratidão.
Logo
que chegou o telefone aqui em Dourado, ele instalou um aparelho em
sua fazenda que era o único do Bebedouro e servia a todos os
moradores.
Uma
curiosidade de sua vida: nunca comeu carne de vaca. Só comia
carne de frango e de porco. Sua comida era feita em banha de porco e
até a salada era temperada com a gordura do porco. Nunca teve
colesterol nem triglicérides. Sempre teve muita atividade
física: dirigiu até os 88 anos de idade e aos 86 ainda
subia em árvores altíssimas!
Era
um homem de muita fé religiosa e sempre alimentou uma grande
devoção à Nossa
Senhora Aparecida a
quem dizia nos últimos tempos: “Venha me buscar minha
madrinha.”
Ficaram
as boas lembranças os bons exemplos, as saudades e os seus
descendentes que continuam a construir histórias.
Seus
filhos: Mariza casada com o Caldas e Manoel, o Manoelito, casado com
a Eli.
Seus
netos: Carlos Alberto casado com a Sílvia; a Renata, o André
e o Fábio.
Suas
bisnetas: Bruna, Bianca e Letícia.
Manoel
Cardoso dos Santos deixou muitas histórias para contar, além
dos “causos” com que entretia os amigos.
Conhecendo
a história de Manoel Cardoso dos Santos, que viveu 90 anos
incompletos, conhecemos um pouco da história de evolução
e transformação do mundo durante o século XX.
Vejam
também:
Cada Banco, Uma História. (Bazar Americano)
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