Nesta oportunidade não poderia deixar de fazer uma singela homenagem a duas matriarcas: Tereza Sanches Agnelli, mãe de Germano Agnelli e Justina Agnelli, sua irmã. Desde muito pequeno tenho visto o exemplo de amor e dedicação de minha bisavó e avó aos filhos, netos para manter a família unida. Minha Bisavó Tereza e meu bisavô Toninho tiveram onze filhos: Nilton, Germano, Carlos, Chiquinho, Natal, Torelo, Maria, Justina, Júlia, Zilda e Terezinha. E ainda adotaram mais dois meninos que criaram com o mesmo amor e atenção dos seus. Moraram por muito tempo na Zona Rural onde plantavam algodão, milho, café e criavam gado. Depois que os filhos cresceram e se casaram passaram a viver na cidade de Dourado, interior do estado de São Paulo.
Também a elas devo meus préstimos por terem guardado, por tanto tempo, relatos importantes da história da Segunda Guerra Mundial que só agora podemos compartilhar com todos.
Família Agnelli
Rio de Janeiro, 08 de Novembro de 1944.
Minha boa mãe,
Saudações.
“Espero que quando receberes esta já tenham recebido noticias minhas pelo telegrama que mandei. Eu recebi todas as cartas da senhora, da Júlia, Lídia e da Justina.
Eu aqui vou indo bem e peço a senhora e a todos que não fiquem tristes comigo, não devem pensar em mim. Eu aqui estou contente com tudo. Nada me faz passar triste. Só aí é que me põe a pensar. Portanto peço para que não pensem em mim. Diga a Júlia também para não chorar. Explica a ela que a guerra já está acabada. Eu era para ficar aqui mas foi dado sem efeito, de modos que agora eu vou como rádio-telegrafista. Em nada devemos temer. Tenho muita fé que nada há de acontecer. Quando eu for eu passarei um telegrama. Nesse telegrama eu só vou dizer o seguinte: (Sinto muitas saudades). De modos que assim fica combinado o meu sinal de partida. E nada de tristeza porque eu só vou fazer um passeio. Podes acreditar nisso. Se a senhora não crer nisso será a mesma cousa que não acreditar em Deus.
Dentro de poucos meses estamos todos de volta. Eu quero que todos sintam orgulhosos de mim. Saberei cumprir com o meu dever. Sempre gostei disso. Um dia seguirei, mas um dia voltarei.
Deus sempre me guiou e sempre a de me guiar.
Mãe, eu dei uma escapada e fui ver a Josefa, passei sábado, domingo e segunda, de modos que ela ficou mais conformada. Eles me fizeram tanto que nem sei como pagá-los. Eles são muito bons. E me estimam muito. Josefa me disse que já respondeu a carta da senhora.
A contar do dia do meu embarque, o pai deve receber aí, um mês de meus vencimentos. Se acaso não receberem, me escrevam.
Beijos em todas as crianças.
Sempre peço desculpas de minha letra.
Eu aqui procurei o Lelo mas não encontrei. No contingente que veio do Norte ele não veio. Ele deve ter dado já a baixa. Ele já findou o tempo.
Em maio, se Deus quiser, estaremos aí todos juntos.
Vamos fazer uma grande festa. Sempre estou pensando em todos aí.
Sinto saudades. Mas em breve mataremos essa saudade.
Quanto ao meu dinheiro, o governo vai deixar depositado no Banco Andrade Arnaud, com sede a rua Buenos Auyres nº 20 – A – Distrito Federal.
Eu vou ver se posso mandar uma procuração para o pai, para ele retirar esse dinheiro e guardar junto com o outro que ele irá receber todo o mês.
Sei que ele tem que fazer aí uma nova procuração para o Colagrossi movimentar com o Banco Nacional da cidade de São Paulo, que é o que vai fazer a transferência com o Banco Andrade Arnaud.
Sem mais aceite recomendações deste teu filho que pede abençoa-lo.
Germano.
Avó Justina Agnelli Varella.
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