Porta com o Mundo.
De acordo com José Baptista, 73 anos, trinta dos quais trabalhando como funcionário da Companhia Paulista S/A, onde ingressou em 1949, justamente o ano em que esta encampou a Douradense, na estação de Bocaina trabalhavam oito funcionários, sendo dois chefes, um conferente, três portadores e dois auxiliares. Outras pessoas da cidade estavam empregadas na ferrovia, principalmente nos serviços de manutenção dos trilhos.
Baptista trabalhou na estação de Bocaina durante dois períodos, entre 1953 a 1955, para onde veio transferido na função de auxiliar-responsável pela bilheteria e despachos de bagagem - da estação da Companhia Paulista em Marília, e entre 1963 a 1966, quando voltou efetivado na função de chefe. Antes da sua primeira passagem por Bocaina, já havia trabalhado como telegrafista na estação de Santa Rita do Passa Quatro.
Entre suas muitas memórias do período em que trabalhou está a de um incidente ocorrido com uma locomotiva de carga, no momento em que esta manobrava próximo à plataforma e um dos vagões acabou se soltando da composição, indo parar a cerca de 1,5 quilômetros do local. "Foi muita sorte (o vagão) não acabar pegando nenhuma pessoa sobre os trilhos", comenta.
Sobre a movimentação na estação nas tardes de domingo, ele recorda: "Você quase nem conseguia andar na plataforma. Era muita gente que queria ver a chegada e a partida do trem. E também porque todas as novidades chegavam pela ferrovia.
Os jornais diários, as mercadorias adquiridas pelas casas de comércio que funcionavam na cidade e os filmes que seriam exibidos no Cine Jequitibá".
Se hoje algumas pessoas chegam a ficar impacientes quando não encontram na mesa do café o seu jornal diário, que chega à cidade nas primeiras horas da manhã através dos ônibus, imagine o que era se inteirar das notícias do dia anterior apenas próximo do horário do jantar.
Apesar de sua lentidão se comparada aos meios de transporte hoje existentes, a Maria Fumaça heroicamente seu papel no fomento das atividades comerciais e industriais da cidades por elas servidas. Sobretudo as fazendas de café, responsáveis pela principal fonte de riqueza dos municípios do interior até boa parte do século passado, deveram muito de sua pujança às facilidades oferecidas pela ferrovia para o escoamento de sua produção.
Baptista afirma que, se fosse hoje, as pessoas nem sentiriam a desativação da ferrovia. Mas em 1966, quando de fato ela ocorreu, o sentimento reinante entre os bocainenses foi como se a cidade tivesse vendo ser fechada a sua porta com o mundo exterior: "Na época, além do principal meio de transporte, Bocaina perdeu também seu ponto de encontro nos finais de semana".
Quando soube da notícia de que a estação de Bocaina estava para ser desativada, depois de ser incluída numa série de ramais considerados deficitários pela Companhia Paulista, Baptista foi até o presidente da Câmara Municipal da época, numa tentativa de encontrar apoio para a permanência da ferrovia na cidade. O esforço foi em vão. No dia 15 de setembro de 1966 a estação recebia a sua última locomotiva. Nesse mesmo dia, Bocaina sofreu ainda uma outra perda. O Banco Paulista S/A, que tinha sua agência no prédio onde hoje está localizada a prefeitura, encerrava definitivamente as suas atividades na cidade. Os bocainenses, por sua vez, encerravam uma convivência de pouco mais de meio século com a Maria Fumaça, cujas lembranças vão continuar ressoando na memória das pessoas que a conheceram como o apito estridente que ela soltava na estação a cada chegada e partida.
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