Os Carneiros e a Estrela (Parte IV) por Kate Agnelli.
Dourado
Era uma grande família a dos Agnelli, como a videira vai enroscando seus ganchos atrás da luz do sol para dar novos frutos, seus descendentes iam espalhando-se pelo Brasil formando novos núcleos. Natale e Giustina escolheram Dourado para morar, viviam numa chácara chamada "Jardim Novo", onde plantavam legumes, verduras, frutas, até mesmo pêras e maçãs, tão difíceis de encontrar na época. Contam que ao lado da chácara havia um campinho de futebol, bem ao lado do muro, onde os meninos iam fazer suas "peladas" O velho Natale, de gênio brincalhão, chamava a garotada por cima do muro e joga-lhes frutas, enquanto os meninos ávidos catavam as delícias, lá vinha uma bacia de água por cima de suas cabeças. Era um divertimento para Natale e para a molecada também, pois com o calor, aquilo era um refresco e tanto.
Os anos já pesavam para os dois velhinhos italianos, queriam viver sossegadamente longe de tantas lutas e lutos...Por esta época Dourado já possuía casas comerciais como os Colagrossi que dominavam o setor de secos e molhados, sendo um deles agente Consular italiano. Os Tavano vendiam e fabricavam calçados, chapéus,etc. As famílias Jacobucci e Freitas começavam a fabricar guaraná e cerveja. Sendo o guaraná Tupy e cerveja Guarany, dos Jacobucci.
Normalmente aqueles que vinham do sul Italiano como a Calábria, Sicilia, Puglia, Bari, acabavam se dedicando ao comércio, enquanto que aqueles que vinham do norte Italiano iam para a agricultura. A grande maioria da população douradense era italiana; Agnelli, Ambrozio Baldin, Battisacco, Bergamasco, Bonassi, Borragini, Boschi, Brunelli, Buzutti, Buzza, Canela, Crotti, Carli, Castelucci, Cervadoro, Colagrossi, Colombo, Crotti, D'Abruzzo, D'Avoglio, Decicine, Demetti, Desajacomo, Devita, Dictoro, Domeniconi, Donato, Ellio, Fabrega, Facco, Failla, Fantini, Fattori (e), Favoni, Fazan, Fiamoncine, Finhana, Flocco, Foschini, Fragalli, Fragnan, Furlan, Galantini, Galassi, Genardi, Genghi, Gennari, Gramignolli, Gregorio, Laurenti, Lolis, Macari, Magri, Mania, Mangini, Marchi, Marrega, Mascaro, Matttei, Maturano, Melle, Miasi, Migliorelli, Mirandola, Miranda, Nardi, Nardini, Panza, Pedreschi, Pessan, Pieri, Pierini, Pietro, Poli, Roganti, Rosa, Rosalin, Rosato, Rossi, Sciaretta, Scocca, Speranza, Stella, Taconelli, Thomazin, Vanucchi, Vanzelli, Zanon. E muitos outros vindos depois, como os espanhóis; Alvarez, Aguillar, Ballestero, Bueno, Justi (o), Garcia, Gimenez, Gutierrez, Leal, Lopez, Lozano, Munhoz, Penha, Perez, Puerta, Marin, Morales, Rodrigues, Sanchez, Ribas, Rubio. Alguns Poloneses como os Thomasaukas; Austríacos como os Milharcix, Sírios e Libaneses; Assuad, Chaibubi, Chueri, Maluf, etc. Me perdoem aqueles que não consegui encontrar os nomes.
A maioria dos imigrantes tinha tristes histórias para contar sobre a longa travessia do Oceano Atlântico. Durante a viagem, as primeiras vítimas eram as crianças e os velhos, que ao morrerem eram atirados ao mar. Quase todo dia havia alguém chorando no convés do navio. A ração da viagem muitas vezes era fraca, para famílias enormes. Muitas mães acabavam deixando de comer seu pedaço de pão para dá-los aos filhos pequenos. Chegavam magros, ansiosos. Muitos eram separados na hora da triagem da imigração, já no porto de Santos. Algumas famílias que passaram gerações juntas numa mesma região italiana, nunca mais se viram a partir dali...
O destino certo era a capital de São Paulo, de onde eram mandados para as fazendas de café nas várias cidades paulistas. Na ingenuidade deles iriam fazer dinheiro a rodo, mas o rodo que encontravam era o de puxar o café para secar, debaixo de um sol abrasador. Precisavam resistir às diarréias e insolação. A comida, na maior parte do tempo, era polenta com rúcula, plantada e colhida entre os pés de café. Havia pouca carne, somente a dos patos e galinhas criadas nos fundos das casas das colônias, mas sobrava dignidade...
Nunca se viu um imigrante mendigando pelas ruas, a não ser aqueles que perdiam a razão. Se a vida era dura, trabalhavam dobrado. As mulheres, verdadeiras rochas, além de ajudarem no cafezal, pariam filhos, cozinhavam, plantavam hortas e cuidavam dos animais domésticos. Foi quando a economia do país estava começando a mudar e iniciou a nova. A do empregado assalariado. Alguns fazendeiros começaram a achar que aquela gente clara não era tão interessante para eles como os escravos e o nome da princesa Isabel não foi muito bem falado por alguns fazendeiros... Começavam também as primeiras manifestações sindicais. Na época um crime. Aqueles que queriam levantar a cabeça contra as injustiças apareciam pendurados em árvores no meio da mata e tratados como suicidas.. Segundo relato de Zuleika Alvim, historiadora da USP, no seu livro "Brava Gente" há o seguinte relato; "em 1905, Carlos Botelho, secretário da Agricultura na época, retomou a política de núcleos coloniais, criando a Agência de Colonização e Trabalho em 1906, cujo objetivo era favorecer a colonização (...) proteger o trabalho e impedir que o colono fosse objeto de engano por parte de agentes especuladores e fazendeiros pouco honestos. Estranha preocupação para um homem que dez anos antes, em 1896, teve seu nome envolvido na morte de um colono, que ficou impune como tantas outras, conforme relato feito na época junto ao agente consular em Dourado ( Há três dias desapareceu da fazenda do Sr. Carlos Botelho (...) um colono italiano, sem deixar nenhum traço, sua família numerosa, estava desoladíssima e todos na fazenda preocupados com o estranho desaparecimento. Qual, porém não foi a surpresa, ou melhor, o espanto de alguns cidadãos ao encontrarem, na manhã do dia 20 de abril de 1896, num bosque da fazenda, pendurado numa árvore, o cadáver do fugitivo(...), tratava-se de um suicídio ou de um caso de enforcamento? Mistério...O delegado Luiz da Vinha, avisado do fato e solicitado a dirigir-se ao local(...), recusou-se perempetoriamente. Assim o morto foi retirado da árvore e sepultado sem a menor intervenção de nenhuma autoridade".
Esse documento existe na Itália, pois foi enviado pelo agente Consular Italiano para lá. Mas Carlos Botelho foi também um grande benfeitor para Dourado. Possuía fazendas de café por lá. Trouxe a luz elétrica, a Cadeia Pública, o Matadouro e o Grupo Escolar que leva seu nome. Enfim interesses casados sempre trazem "progressos" para ambas as partes. O café foi chamado inclusive de "ouro brasileiro". Segundo dizem as terras Douradenses e Saõcarlenses produziam o melhor café para exportação. E o mundo não imaginava o longo caminho percorrido, até que o aroma reconfortante chegasse à Europa e Estados Unidos. Todos queriam a terra, sempre a terra para mais café ... Terra adorada, desejada , explorada e machucada... Porque os verdadeiros protetores dela, de suas matas e riachos, os coitados dos Índios, primeiros habitantes, vencidos foram acabar numa pequena reserva perto de Bauru, tão perto e tão longe de suas antigas ocas...
Onde ainda continuam invadidos, agora por outro tipo de brancos os das ideologias religiosas. Quase extintos pela barbárie branca, estão embebedando e suicidando-se... Deixaram os nomes como prova de sua existência primeira aqui; Moji, Moji-mirim, Jacaré-pepira, Botucatu, urutau, caraguatá, mororó, jatobá, jacarandá, ararama, ariranha, Araraquara, Cajuru, cateretê, tamanduá, guará, gabiroba, etc. Índios que perderam sua amada terra do sol... Foram mortos, escravizados, pegaram as doenças dos brancos e assim tribos inteiras desapareceram, facilitando o trabalho da colonização (invasão). Por um capricho da genética, os Índios eram indefesos às doenças dos brancos... Para os dominantes da época colonizadora Índio, Negro e Mulher não possuíam alma, eram coisas, assim como uma pedra, ou uma árvore morta, que pode ser picada e queimada... Os Índios e Negros eram escravizados ou mortos, as mulheres sequer possuíam sobrenomes, eram conhecidas apenas pelo primeiro nome, não tinham direito algum. Aos Índios, todo o meu respeito e gratidão pela terra na qual eu hoje vivo...Para se ter famosa e dolorosa terra roxa, quanta luta e dor. Regada com tanto sangue e lágrimas de acorrentados, exilados e atormentados escravos negros... Para com eles minha eterna solidariedade. Para todas as mulheres de todos os tempos a minha admiração... Terra também "rossa" do suor dos Italianos e de outros imigrantes. Terra que alimentou fartamente os bolsos brasileiros, bancos e bolsas mundiais... Quando poderemos pagar tantas dívidas para com esse passado, ainda tão perto?
Voltando aos imigrantes Italianos, a adaptação não foi assim tão fácil como pensam alguns descendentes. Num relato do jornal "Avanti" dos dias 25 e 26 de maio de 1902, podemos ler a história de duas irmãs italianas da família Lungaretti, moradoras na região de Ribeirão Preto, que recusavam firmemente o assédio de Raul Salles, o que resultou na perseguição e agressão de toda a família das moças. Por isso todos os italianos da fazenda pararam o trabalho em solidariedade aos amigos. Enfurecidos os Salles resolveram se impor, mandando a família embora, mas os Lungaretti se recusaram a sair, dizendo que tinham contrato de trabalho. Diante disso o pai de Raul agrediu o velho Lungaretti. Angelo seu filho vendo o pai ferido e sendo muito mais forte que o agressor, matou Diogo Salles. O caso não teria tanta repercussão, não fosse o morto, irmão do então Presidente Campos Salles.
Toda a população italiana se uniu para angariar fundos e contratar o melhor advogado, para defender Angelo Lungaretti, que mesmo assim acabou pegando oito anos de prisão. A historia ocupou por muitos dias a imprensa paulista. Era difícil para as oligarquias cafeeiras entender que os italianos tinham seus valores, não eram seus escravos... Escravos que por esta época quase não tinham como sobreviver, porque o trabalho assalariado era dado aos imigrantes. Ou ficavam ajudando nas casas das fazendas em troca de comida ou fugiam para as matas indo morar nas beiras de rios ou em morros. Outros de tanto apanhar perdiam totalmente a auto estima, mendigavam pelas ruas. Muitos foram vivendo da natureza, formando comunidades distantes das cidades, os quilombos, alguns existentes até hoje. Assim o Brasil foi iniciando a triste história dos favelados...Tão lindo e colorido e caloroso o nosso país e tão repleto de choros longínquos , que ainda ecoam nas matas, nos rios, nas mentes e corações que sentem...
Voltando a Dourado do começo do século, cidade ainda na infância era dirigida por intendentes desde 1897 até 1906, quando teve seu primeiro prefeito Alfredo de Araújo, que governou até 1926.
O centro do Estado de São Paulo tem sua história tão entrelaçada, entre os seus municípios, como uma tela de bordados. Cada cidade com sua cor e todas juntas formam um lindo mosaico. Se voltássemos apenas cem anos, que é um tempo muito curto perante a história, veríamos a região central de São Paulo, como uma única peça de tecido, onde cada município foi sendo tingido com uma cor diferente, conforme os acontecimentos iam se sucedendo. Somos todos ligados pelo invisível e implacável fio do destino, que nos costura uns nos outros e que leva todos os viventes para o mesmo lugar, e num pedaço de terra tão pequenino...
Em Dourado os imigrantes foram se encaixando devagar, cada um achando seu lugar, colocando seu pedacinho do bordado da vida. Contam os antigos que Antonio Agnelli andava sempre armado. Era um homem alto e forte, vestia bombachas, usava capa gaúcha, botas sanfonadas, camisa de linho, uma guaiaca carregada de balas. Homem inteligente, bom negociante. Fazia comitivas para Mato Grosso, levava a boiada pelas estradas de pó e lama. Uma figura ímpar, aquele montanhês grande e rosado de olhos azuis, vestido de boiadeiro, assobiando, gritando com os peões e bois. Não largava sua amiga carabina.
Os Agnelli possuíam a fazenda Pedra Branca entre Dourado e Ribeirão Bonito, onde existe uma enorme formação rochosa chamada cuzcuzeiro, a tal pedra branca. Até os dias atuais o pessoal chama a formação de "Pedra do Agnelli". Francesco Agnelli, tio de Antonio tornou-se o contador da família, ganhava muito dinheiro exportando café, mas perdia no jogo...Vendeu a fazenda.
Corria o ano de vinte e sete. Época de muita agitação política, ânimos exaltados, revoluções. Antonio com a parte do dinheiro que lhe coube comprou a fazenda Contendas, perto de Brotas. Para lá foram Tereza e todos os filhos louros. Plantavam, criavam gado e cavalos de corrida muito bem cuidados pelo empregado "João Trovão". Possuía também um "pé de bode", que era o nome dos primeiros carros Ford, os famosos fordinhos, símbolo de status social nas décadas de vinte e trinta. E começou o tempo das revoluções. Mataram João Pessoa... Foi uma cascata de acontecimentos desembocando na primeira Revolução, a de 1930.
Tiraram o presidente Washington Luiz e subiu ao poder central o gaúcho Getúlio Vargas. Várias foram as causas que derrubaram o presidente, entre elas o descontentamento dos cafeicultores, que ficaram sem financiamento para suas safras, devido a queda da bolsa de Nova York em 1929. O café era o principal produto de exportação do Brasil. Outros setores paulistas ligados à indústria e a exportação colocaram-se francamente a favor da revolução.
Em 9 de julho de 1932 foi declarada a Revolução Constitucionalista. Seu objetivo era levar o país de volta a um regime constitucional, do qual estava afastado desde a Revolução de 1930. Getúlio Vargas não havia convocado eleições para a Assembléia Constituinte ou para os governos estaduais. O país vivia um regime de exceção, não havia congresso e as leis eram feitas pelo presidente e seus ministros. Os estados eram governados por interventores impostos pelo governo central e geralmente escolhidos entre os tenentes que haviam apoiado Getúlio Vargas na Revolução de 1930. O famoso "Tenentismo". E as tropas revolucionárias chegaram até a fazenda Contendas de Antonio Agnelli. De lá levaram oito sacas de feijão, outras tantas de milho e mantimentos, uma espingarda, um rádio. Mediram a altura dos cavalos de corrida, para levarem só os melhores. Assim de um dia para outro, sem que ninguém pudesse reagir. Nem o adorado "fordinho das meninas" foi poupado. Tinha muita serventia para os soldados...E assim um ano inteiro de colheitas, de suor, desapareceu na nuvem de poeira da revolta. E São Paulo acabou sozinho, pois Minas e Rio Grande do Sul passaram para o lado do Governo Federal. São Paulo perdeu. Alguns douradenses filhos de italianos foram servir na Revolução, entre eles os irmãos Sciaretta. A juventude não perde a oportunidade de participar de mudanças em todas as épocas.
Sabiamente Antonio Agnelli passou seus bens e contas bancárias no nome dos filhos brasileiros. Era uma família unida , única maneira de ser forte em terras tão desorganizadas. Qualquer ofensa a um dos membros da família era uma ofensa para todos. Eram admirados e odiados. Não professavam nenhuma religião, muito menos a católica. Desde a Itália tinham total desconfiança de batinas. Mas certo dia, Tereza na sua curiosidade feminina quis conhecer a igreja de Ribeirão Bonito, diziam que tinha pinturas bonitas. Tereza ainda era uma linda mulher, embora mãe de muitos filhos. Convidou sua cunhada Maria e lá se foram as duas. Entraram cuidadosamente na igreja vazia, olharam tudo depois se ajoelharam, com a cabeça baixa. Não é que de repente Tereza levou o maior susto, com o padre tascando-lhe um beijo no rosto. Ela gritou, pulou e as duas saíram correndo, enquanto o pároco tentava inutilmente dizer que pensava ser ela uma santa... Chegaram em casa assustadas. Maria mais jovem e mais impulsiva foi logo contando o sucedido para o irmão. embora Tereza tentasse fazer sinais para que não falasse.
Antonio estava sentado à mesa comendo, parou. Empurrou a cadeira, fincou a ponta da faca na madeira da mesa. Saiu como uma bala. E que bala! Pegou seu cavalo, sua carabina e o chicote. Chegando na igreja, com um pontapé quase derrubou a porta da sacristia, pegou o padre pelo pescoço dando-lhe bons tapas. Depois o amarrou com o laço boiadeiro, colocou-o na frente do cavalo. Montou o animal e foi tocando o padre, como um boi, dando-lhe chibatadas. Ia gritando em italiano, para todo mundo ouvir, porque fazia aquilo. A cidade emudeceu, a igreja também. Transferiram o padre...
Assim era a vida, quem podia mais, chorava menos. Tempos de sobrevivência sem muito respeito às leis. O país engatinhava em certos princípios de civilidade. Em lugares distantes onde a comunicação era difícil de chegar, como nas matas das fazendas de muitos alqueires de mata cerrada, nem se sabia o que era lei. Os Agnelli empurrados pela ânsia de conquistadores, compravam terras e bois, plantavam sementes para um futuro desconhecido, mas esperançoso. Em setembro semeavam o café, milho, feijão e por sete a oito meses tratavam as plantações. Em maio e junho começavam as colheitas. Muitas foram as razões dos imigrantes, alguns vieram na esperança de possuírem seu pedaço de terra, como tinham na Itália, outros por pura sobrevivência física, mas todos com uma rebeldia comum frente a uma situação impossível de se manter na pátria de origem.
Se fossemos contar hoje os descendentes de italianos que vivem fora da Itália, o número dos que imigraram e sua descendência, juntos superam a população Italiana atual. Os vários imigrantes contribuíram muito com o Brasil, com sua força de trabalho inteligente. Os Italianos com sua organização, sua alegria natural, tudo para que São Paulo se tornasse uma potência dentro do Brasil.
Após a Revolução de 1932 começaram a chegar nordestinos aos borbotões, foram aumentando a cada década. Pressionados por uma seca interminável e sem vontade de solucioná-la pelo poder de lá, vinham em busca de trabalho. Muitos até eram encorajados a vir para São Paulo, talvez porque a idéia de que, com o tempo um estado miscigenado, não tão europeu, tornava-se mais fácil de controlar. Sendo o país de origem patriarcal, os interesses naturalmente ficariam divididos entre filhos, netos e bisnetos, todos miscigenados, aí ninguém mais iria querer separações, outras revoluções...
A partir de 1932 o poder paulista diminuía no Governo Federal e aumentava o de nordestinos. Desde então ficou praticamente impossível ter paulistas no centro do poder. Paulista sempre foi duro de montar. Trabalharam dobrado, partindo para a industrialização, que fez do Estado novamente o centro das atividades econômicas do país.
Dizem outros brasileiros que paulista só sabe trabalhar, pode até ser verdade... Como seríamos nós se não fossemos forjados a ferro e bigorna? Alguns fazendeiros deixaram o café e partiram para a produção leiteira, ao que se seguiu o nascimento de laticínios em Dourado, Ribeirão Bonito e São Carlos.
Na região central do estado as primeiras organizações bancárias nasceram sob a direção de grandes propriedades rurais. Embora o governo mandasse queimar todo aquele café depois da crise da bolsa de vinte nove, o capital que tinha gerado acabou financiando a industrialização e os paulistas, habilidosos poupadores não desperdiçaram nem fumaça, que continuou até os nossos dias nas muitas fábricas espalhadas pelo estado.
O grande número de imigrantes habilidosos, fez com que surgissem pequenas indústrias, muitas existentes até hoje. Nasceram as indústria de tecidos em São Carlos como a de Germano Fehr que fornecia brim verde-oliva para o exército; a de lápis , como a antiga Johann Faber, hoje Faber-Castell, que já era uma pequena fábrica em 1926, também da família Fehr. Fábricas de móveis, etc.
Em Dourado havia as indústrias de guaraná Tupy e cerveja Guarany e um número grande de sapateiros, vassoureiros, marceneiros, etc.
Em Ribeirão Bonito havia as "Indústrias Torrezan", que começara com habilidosos ferreiros Italianos, fazendo de início rodas para carroças, foram progredindo até chegarem as peças para carro.
Em Torrinha havia até um banco, nascido lá mesmo com capital do café. Enfim o centro do estado passava do setor agrícola para o industrial, comercial e bancário. E toda essa produção demandava escolas e mais escolas que foram surgindo na esteira da necessidade de progresso. Foi-se gerando assim a base para a instalação das Universidades por aqui.
Após o período conturbado das Revoluções, os Agnelli começavam a recuperar sua economia com a criação de gado, deixando o café que já não trazia mais lucros para ninguém. Só servia mesmo para o pouco consumo. Os filhos estavam adolescentes. Ajudavam no trabalho. Enquanto Antonio Agnelli partia com comitivas para o Mato Grosso, os filhos mais velhos tomavam conta dos negócios. Os irmãos de Antonio também já estavam casados. Maria Agnelli havia fugido para casar com João Novaes de São Carlos, Ana (Nita) morava com o marido em Ribeirão Bonito. Deolinda e Itália em Bauru. O tio Francesco morrera de enfarte por causa da queda da bolsa de Nova York, ele tinha muito café estocado em Santos. Possuía muitos terrenos em São Paulo. Era inclusive sócio da então iniciante fábrica de vidros "Nadir Figueiredo". Era solteiro, não deixou descendentes. Josefina morreu dois meses após o casamento. Ernesto casou-se com Tereza Ambrozio de Dourado. Violindo e Lídia eram solteiros.
Na fazenda Contendas ( Nome bem apropriado ), os Agnelli tornaram-se vizinhos dos Pereiras. Não eram amigos, mas se respeitavam. O destino vai desenhando na malha de seu tecido às vezes cores tristes, às vezes alegres, para que a vida se manifeste. Ela se impôs com cores carregadas no final dos anos trinta, tanto para brasileiros, como para europeus.
Família Agnelli.
Francisco Agnelli (Filho de Antonio Agnelli) com os filhos em Mato Grosso.
Ver também:
Nossas Origens.
http://douradocidadeonline.blogspot.com/2010/04/nossas-origens-e-tradicoes.html
Festas Regionais.
http://douradocidadeonline.blogspot.com/2010/06/festa-sao-joao-batista-dourado-2010.html
Os Carneiros e a Estrela (Parte I).
http://douradocidadeonline.blogspot.com/2010/08/num-passado-distante-em-dourado.html
Os Carneiros e a Estrela (Parte II).
http://douradocidadeonline.blogspot.com/2010/08/dourado-e-imigracao-italiana.html
Os Carneiros e a Estrela (Parte III).
http://douradocidadeonline.blogspot.com/2010/08/ascendencia-espanhola.html
Cartas de Germano Agnelli (2ª Guerra Mundial).
http://douradocidadeonline.blogspot.com/search/label/Germano
O Turismo em Dourado.
http://douradocidadeonline.blogspot.com/2010/08/dourado-e-o-turismo.html
Dourado década de 50 e 60.
http://douradocidadeonline.blogspot.com/2010/03/jc-jornal-da-cidade.html
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