Jornal:
“Folha de Dourado” - Ano II, 22 de janeiro de 1993, Edição
Nº84.
Dona
Cecília B. Pereira de Souza Braga é sobrinha do
ex-presidente Washington Luiz e filha de Everardo Valim Pereira de
Souza um dos fundadores de Dourado, membro da primeira legislatura da
cidade nos idos de 1897. Não bastasse sua descendência,
Dona Cecília tem na memória e nos arquivos
cuidadosamente catalogados toda a história do município,
desde quando Dourado cortou seu cordão umbilical com Brotas
até recentemente.
Na
edição passada ela deu início ao relato de “Os
Barões de Dourado”, penúltima parte do trabalho que
vem publicando a respeito da instalação de seus
antepassados nessa região. Por lapso da redação
a chamada da primeira página para os escritos de Dona Cecília,
deram a entender que ali se iniciava a publicação da
autora, o que não corresponde a verdade, já que sua
colaboração junto ao jornal vem de longa data e várias
edições.
Os
“Barões de Dourado” são os pontos onde a biografia
de Dona Cecília, uma pessoa doce, educada, digna,
representante da aristocracia paulista que a saga do café no
estado tão bem produziu – e a história do município
se entrelaçam e se confundem.
Dona
Cecília conta:
“Proporcionando-nos
lindas pescarias e seus camaradas rumaram a Ilha do Corvo Branco com
poucos dias de antecedência e quando lá chegávamos
barracas com duas camas largas arrumadas, banheira de lona, os
demais pertences como lanchas motores etc comandando-os o melhor dos
seus pilotos: o Seo Chico.
Quase
tudo vinha da Inglaterra e era desmontável.
Encontrávamos,
outrossim frangos já nas panelas e os peixes fresquinhos
fumegando nas panelas.
Não
faltava também o palmito cujas palmeiras eram derrubadas
diariamente (Que judiação!).
Tudo
isso acompanhado por vinhos estrangeiros cujas garrafas ficavam
enterradas na areia sempre úmida.
O
nosso anfitrião nunca sentou-se a mesa conosco sem vestir o
paletó de linho branco.
Ocupando
a cabeceira deixava-nos ser a vontade e comentava de modo pitoresco:
- Nhanhã,
você gastou dinheiro na Europa, mas eu só gasto em
pescaria. Pra mim Paris é barranca de rio!
E
os dois ficavam a comentar coisas das que faziam na fazenda dos avós
em Rio Claro quando adolescentes.
QUANTA
SAUDADE!
Depois
do “banquete” iamos dormir. Minha mãe, eu, duas primas
tínhamos o privilégio de ocupar a melhor barraca que
ficava logo no princípio da Ilha.
Despertávamos
as 6 horas da manhã o que pra mim significava o maior dos
martírios. Mamãe ia na “canoa de luxo” e eu deitava
no fundo do barco lendo História da França!! Não
me deixavam ficar na Ilha enquanto pescavam.
Certa
manhã na confluência do Jacaré com o Tietê
foi um “Deus nos acuda”!! Acabei agarrando também a vara
auxiliando-os tremendamente em algo super contra minha natureza:
acabávamos de fisgar um jaú de 72 kg.
Antes
de conseguirmos chegar a Ilha onde já estavam sabendo do
“grande acontecido” o Seo Chico aproveitou para dar verdadeiro
show: desligar o motor consentindo que o peixe puxasse a canoa rio
acima. Avalie: 3 pessoas um motor Jhonson e uma lata cheia de óleo
diesel. todo esse peso puxado pelo coitadinho.
Afinal,
exausto, foi deixando-se levar até a prainha da Ilha onde
cheguei sem sentir os braços e quase morri de susto quando
muitos homens o foram puxando e vi aquela cabeça enorme com um
anzol de uns 30 cm mais ou menos.
Jurei
nunca mais na minha vida pescar um lambari, pois para conservarem o
jaú furaram-lhe os olhos, passaram um cipó, amarrando
com bastante força, prendendo-o em uma pinguela com os demais
peixes. Eu vi aquele coitado debatendo-se por uns dois ou três
dias chegando ainda com vida em Dourado.
Possuo
a sua fotografia, e bem assim, perene remorso!
Na
nossa volta, parando em Bariri, mamãe quis visitar a igreja.
Aproveitamos então para ver as rosas da praça que eram
lindíssimas.
Qual
não foi nosso espanto quando nos vimos rodeadas por uma turma
gritando: “Chegaram as muié do circo”, repetindo a frase
cada vez mais alto.
Examinando-nos
bem constatamos que estávamos realmente ridículas.
Calças compridas naquela época, creio que só na
China e na Índia; roupas amarrotadas, botas, chapéus de
palha com abas enormes. Estávamos realmente de assustar.
Com
essa apressamos a nossa volta ouvindo-os dizer: “Será que as
muié vão embora?”
QUE
TEMPOS!!
João
herdara a Fazenda Santa Elisa sob cujas mangueiras hoje centenários
brinquei muitas vezes em criança.
Felizmente
essa fazenda caiu em ótimas mãos; pertencem hoje ao
casal Flávio e Wilma Ferreira.
Deixarei
para descrevê-la a quem entenda de: organização,
lavoura, pecuária, industrialização, etc, etc.
O
que posso eu dizer é que considero-a lindíssima no seu
todo e que os queijos lá fabricados são incomparáveis.
Hoje
não só é um dos cartões de visitas de
Dourado, como auxilia pelo seu aperfeiçoamento a difundir o
valor deste município.
Quem
tem competência para tal?
Creio
que só mesmo um agrônomo.
Desse
ramo não conheci outros primos de mamãe mas citarei
Olympia que casou-se com seu próprio tio Eduardo Augusto e
tiveram nove filhos. Residiram por longos anos num casarão de
Rio Claro onde hoje funciona o Colégio Bilac”.
Fotos aéreas de 1930/1940 registradas pelo Exército Brasileiro.
Cachoeira da Fazenda Botelho.
Visão aérea da cidade de Dourado.
Fazenda Santa Clara, hoje Estância Santa Clara.
Colaboração:
Osvaldo Virgílio.
Fotos:
Milton Bueno (Nenê do Cartório).
Veja
também neste Blog:
Rua Expedicionários da Pátria (Dourado).
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