O menino do Nhô Juca achou um filhote de papagaio no chão perto do coqueiro. Estava órfão. O gavião havia atacado a mãe. O bichinho indefeso ainda sem penas precisava de cuidados. Levou- o para casa. Tratou com papa, ensinou as primeiras palavras. Colocou o nome de Mulata.
Quando aprendeu a voar seguia seu dono para todo lugar. Adorava estar no meio da molecada. Gritava junto. Nas brincadeiras voava por cima, fazendo algazarra, parecia gente. Todo santo dia Mulata esperava Juquinha sair da escola e vinha voando por cima de sua cabeça gritando. Chamava toda a família pelo nome.
Cantava o Hino Nacional. Aprendeu até a prender os porcos que saíam do chiqueiro. Certa vez, ninguém tinha visto, mas os porcos escavaram um buraco na cerca e estavam escapando. Mulata viu, assobiou para o cachorro Dudu. E os dois tocaram todos para dentro de novo, ela voando e batendo as asas em cima das costas dos bichos e ele latindo. Era uma alegria. Parecia gente.
Voava livre por todo lado indo muitas vezes a lugares mais distantes. Como era mansinha parava nas casas das pessoas e ficava fazendo graça. Mas, um nordestino vindo do sertão de Pernambuco, nunca tinha visto coisa igual. Capturou a Mulata. A noite chegou e nada da mulata vir jantar, chama daqui, chama de lá. Pegaram os cavalos para procurar, nada. Foi uma choradeira só. No dia seguinte saíram pelos sítios da vizinhança procurando, perguntando.
Todos os amigos se prontificaram para ajudar. Até que um moleque ouviu falar que o pernambucano tinha um papagaio. Nhô Juca não teve dúvidas deu queixa na polícia. O delegado nunca tinha passado por uma situação igual, mas mandou dois soldados até a casa do nordestino para buscar o papagaio.
Como não tinham onde colocar, puseram num pequeno alçapão, daqueles que os moleques usam para pegar passarinhos. Coitada da Mulata nem podia se mexer. Ainda pra completar jogaram um pano por cima para que ela ficasse quieta. O delegado mandou chamar os implicados na questão.
Primeiro entrou o nordestino
- Bá tarde Dotô
- Boa tarde, então o senhor jura que o papagaio é seu?
- Juro, sim sinhô. Eu peguei o bichinho pequenininho, tratei, agora que tá crescido todo mundo qué, até cortei as asas dele pra não ir pra longe de mim!
O delegado mandou o soldado pegar o papagaio e trazer para perto do nordestino. Quando a ave viu o homem começou a gritar sem parar, desesperada. Tiveram que cobrir com o pano novamente. Em seguida chamaram Nhô Juca e Juquinha. Novamente o delegado fez a mesma pergunta;
- Muito bem Seu Juca, o senhor diz que o papagaio é seu, mas o outro diz a mesma coisa, e agora?
Nhô Juca coçou a cabeça, pensou e disse;
- Olha dotô, quero vê de perto!
Lá foi o soldado buscar de novo o papagaio coberto com o pano, dentro do alçapão... Ao entrar na sala do delegado o bichinho ouviu a voz de Nhô Juca e de Juquinha, disparou a gritar:
- Paiêeee, tira eu daqui, tira eu daqui. Juquiiiinha!!!!
Quando levantaram o pano a Mulata com os olhos esbugalhados e vermelhos gritava mais ainda;
- Paiêeee, Paiêeee, Juquiiiiinha!
Juquinha vendo o sofrimento do bichinho, tirou-o do alçapão, ao se ver livre o papagaio exclamou batendo as asas cortadas;
- Arre!!!
O delegado não teve mais dúvidas;
- Pode levar Nhô Juca o papagaio é seu!
Kate Agnelli
Apesar de bem engraçado, o fato, aconteceu mesmo em Dourado, apenas foi substituído os nomes para preservar a imagem das pessoas. Mais uma surpreendente história que Kate Agnelli nos presenteia com sua narração rica em detalhes, assim também como foi em “Os Carneiros e a Estrela” divulgados neste Blog e divididos em sete capítulos. Obrigado Kate por colaborar na preservação e divulgação da memória histórica da cidade de Dourado.
Ver também:
Os Carneiros e a Estrela:
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